Segundo professores, jovens estão demonstrando interesse em entender a relação do país com a Rússia. Tema provavelmente aparecerá nas provas de seleção para universidades, mas com foco no contexto geral da crise. Ucrânia
AP Photo/Vadim Ghirda
“Minhas aulas da semana têm sido basicamente sobre a Rússia e a Ucrânia. Recebi dúvida até de ex-aluno, por rede social”, diz Aluísio Júnior, autor de geografia do Sistema de Ensino pH (RJ).
Mas qual é a melhor forma de apresentar o tema na escola? É hora de mudar o cronograma previsto? As notícias mais recentes podem cair nos vestibulares do fim do ano? E as crianças? Também devem saber o que está acontecendo?
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O g1 ouviu especialistas em educação e psicologia para responder a essas perguntas. Confira:
O cronograma de aulas deve mudar?
Segundo Aluísio Júnior, muitos temas que já têm relação com a crise na Ucrânia seriam abordados de qualquer forma no ensino médio.
“Já contávamos com aulas de Segunda Guerra Mundial, geopolítica, Guerra Fria, Rússia e Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]”, diz. “O que os professores agora estão fazendo é adaptar e atualizar esses conteúdos com base no que está acontecendo no momento.”
Mas é claro que, com o interesse crescente dos jovens por causa do noticiário, pode haver uma antecipação de matérias previstas apenas para os próximos meses.
“Com certeza, hoje e amanhã, vamos destacar esse assunto e explicar os conflitos anteriores e a posição estratégica da Ucrânia”, conta Igor Vieira, professor de história do pH.
“O bombardeio foi assunto agora mesmo, na minha aula. Toda vez que acontece algo relevante, interrompo o tema programado e falo sobre isso”, afirma o docente de geografia Antônio Carlos de Carvalho, do Colégio Equipe (SP).
Em Fortaleza, o Colégio Master encontrou outra alternativa: montar um “aulão” interdisciplinar de 1h40 para apresentar a todas as turmas do ensino médio quais as principais questões históricas e geográficas envolvidas.
“Os alunos querem saber se vai haver uma guerra mundial, como será a resposta dos Estados Unidos (…) e qual o impacto no Brasil”, diz Rafael Moreira, professor de geografia da escola.
FOTOS dos ataques à Ucrânia
MAPA mostra áreas bombardeadas pela Rússia
De que formas o conteúdo pode ser abordado?
Gregório Grisa, professor e sociólogo do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS), afirma que o tema deve ser tratado de maneira interdisciplinar, por causa da complexidade dos acontecimentos.
Ele destaca as seguintes maneiras de tratar da crise entre Ucrânia e Rússia:
projetos que integrem mais de uma matéria (como história, geografia e redação);
atividades que incentivem a busca por fontes confiáveis de informação (e que orientem o estudante a não acreditar em fake news ou em teorias conspiratórias);
estímulos ao uso da tecnologia como busca por diferentes versões de um mesmo fato histórico;
exercícios de produção e de interpretação de fotos, vídeos e podcasts acerca do tema.
Danielle Brandão, coordenadora pedagógica da organização Nova Escola, acrescenta que o professor deve mediar uma construção conjunta de conhecimento, para que todos da turma desenvolvam a capacidade de reflexão crítica.
“[O docente precisa] buscar o diálogo, (…) respeitando a divergência de opiniões”, diz.
Os conflitos podem cair no vestibular?
Sérgio Paganim, diretor do Curso Anglo, conta que os alunos estão aflitos para saber se a crise na Ucrânia será abordada nos vestibulares, já que as provas de 2022 ainda não foram formuladas.
O que ele explica é que há, sim, grande chance de o tema aparecer nas questões, mas não de forma detalhada ou focada no noticiário recente.
“Provavelmente, vai ser um assunto que ficará apenas de pano de fundo para que outros tópicos, mais tradicionais, sejam cobrados”, afirma.
Paganim cita exemplos de tópicos mais abrangentes que têm mais chance de “cair” na prova neste ano:
papel da Otan;
relação dos EUA e da Rússia na Guerra Fria;
diferença entre sanção e embargo;
outros exemplos de embargos (como o imposto a Cuba);
produção e comercialização de gás na Europa.
“Os bons exames vão examinar se o candidato consegue estabelecer relações entre esses conteúdos e o que está acontecendo agora”, diz.
Alunos mais novos também devem ter aulas sobre Ucrânia?
Seja na própria escola ou em casa, todos acabarão recebendo alguma informação sobre os bombardeios na Ucrânia, afirma a psicóloga Rita Calegari.
“As crianças podem até parecer que estão distraídas, mas continuam atentas a tudo o que se passa. É muito difícil, atualmente, omitir o que está acontecendo no mundo”, diz.
É claro que elas não vão ter maturidade para entender detalhes do conflito. Os professores podem comentar, mesmo que brevemente, sobre o fato. O mais importante, recomenda Calegari, é tomar cuidado com o tom da aula/conversa.
“Não é escondendo que eu acalmo uma criança, e sim no jeito de falar. Precisamos lembrar que elas não sentem que têm capacidade de autopreservação: sabem que dependem de alguém para sobreviver. Isso faz que elas se sintam naturalmente mais frágeis e assustadas”, explica.
“Se a gente, que é adulto, fica inseguro com um conflito que tem proporção de guerra, a criança vai se sentir ainda mais vulnerável.”
Uma dica é abrir a porta para o diálogo e, na conversa com a turma, reforçar também que existem países e pessoas lutando pela paz no mundo, por exemplo.
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