Fruto de uma pesquisa de mestrado, o jogo será aplicado nas escolas municipais da cidade e em alguns cursos do ensino superior. Segundo cientistas, estrutura do game pode ser adaptada para outras cidades. Jogo criado por pesquisadores da Unesp de Franca (SP) ensina à população sobre os patrimônios históricos da cidade
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Pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) criaram um jogo de tabuleiro para ensinar a população sobre os patrimônios históricos de Franca (SP). O jogo é voltado para alunos do Ensino Fundamental II, Ensino Médio e Ensino Superior.
O objetivo dos cientistas é que os estudantes apreendam, de uma maneira lúdica e descontraída, sobre a importância de preservar os edifícios da cidade, já que eles fazem parte do surgimento e do desenvolvimento do local.
O produto foi elaborado pelo mestrando no Programa de Políticas Públicas Matheus Fernandes Alves Lopes, e o orientador dele, Mauro Ferreira, doutor em arquitetura pela Universidade de São Paulo (USP).
“A educação patrimonial permite apresentar para a população a história local do município, uma vez que a nossa percepção sobre história está muitas vezes associada a um ponto de vista geral, como a história do Brasil, por exemplo. As pessoas desconhecem como a cidade que ela vive chegou até o momento em que se encontra hoje”, explica Lopes.
O mestrando irá aplicar o jogo no curso de arquitetura da Universidade de Franca (Unifran), no curso de história da Unesp e na rede municipal. Todo o material também foi disponibilizado de forma virtual e gratuita para que outras instituições de ensino possam imprimir exemplares.
“Outra coisa importante é que o método do trabalho do Matheus é replicável a qualquer município. Então qualquer historiador, gestor ou ativista de uma outra cidade pode usar esse trabalho. É só substituir os edifícios e as descrições [pelos de outra cidade]”, enfatiza Ferreira.
Matheus Lopes, mestrando do programa de Polícias Públicas da Unesp de Franca (SP), e ao lado direito seu orientador, o arquiteto Mauro Ferreira
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Ideia
O projeto surgiu durante o Fórum de Desenvolvimento Sustentável, uma iniciativa promovida pela Unesp de Franca para reunir diversas instituições do ensino superior e, a partir dessas instituições, criar grupos de discussões sobre as problemáticas da cidade.
“Em um dos grupos de trabalho, surgiu a temática da preservação do patrimônio histórico da cidade, que é um problema instalado há muitos anos no município, mas que não existe, atualmente, nenhuma ação do poder público ou de outros grupos voltada para essa questão”, disse Ferreira.
Ao ver a urgência em trabalhar esse tema, o professor levou a ideia para seu orientando. Juntos, decidiram criar um jogo, levando em conta a experiência bem sucedida que a cidade teve em 2001 em implementar jogos de educação em outras esferas.
“O jogo vem para suprir essa necessidade [da educação patrimonial] de uma forma que não seja mais uma disciplina com carga horária pesada. A gente quer fazer do ensino da história local uma coisa leve, para que várias faixas etárias tenham condições de absorver as informações”, disse Lopes.
Jogo criado pela Unesp de Franca (SP) funciona como RPG, em que cada participante assume um personagem fictício
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Estrutura
Entre as peças, o jogo conta com um tabuleiro, 14 cards de personagens, três cards de conceitos, oito cards de instrumentos de proteção, 20 cards de patrimônio histórico, um livreto com as regras e um livreto com as situações-problemas.
As três cartas de conceito servem para consulta dos alunos. Nelas, aparecem informações sobre o que é valor histórico/valor cultural, patrimônio material e patrimônio imaterial. Já as cartas de instrumentos de proteção trazem as seguintes ferramentas urbanísticas:
Declaração de Impacto em Patrimônio (DIP);
Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV);
Prefeitura/Prefeito;
Tombamento;
Zonas Especiais de Preservação Cultural;
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico (Condephaat);
Plano Diretor;
Inventário.
Os cards de patrimônios têm um formato de cartão postal. Neles, há a foto do edifício e atrás o nome do autor do projeto, o ano da construção, qual é a característica arquitetônica que esse patrimônio tem, qual foi a finalidade de sua construção, se ele ainda existe e qual é o uso atual.
“Tem alguns prédios que foram demolidos e a gente fez questão de colocar para mostrar que a cidade é uma arena de disputa pelo espaço, então o que é importante preservar? Franca tem quase 200 anos e nós queremos informar as pessoas para perceberem que estão em uma cidade que não começou agora”, comenta Ferreira.
Todo o design foi feito pelo artista plástico Gerson Silva Oliveira e os desenhos dos personagens foram feitos pela designer de moda Natalie Rodrigues Alves Ferreira de Andrade. Já a produção gráfica foi patrocinada pelo Laboratório das Artes, iniciativa que o professor Ferreira coordena.
Patrimônios históricos de Franca (SP) são retratados em cards de jogo
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Como o jogo funciona?
O jogo funciona no estilo RPG, sigla em inglês para role playing game, um gênero no qual os jogadores assumem o papel de personagens imaginários em um mundo fictício. Para guiar esses jogadores, o professor torna-se o mediador.
Os personagens são divididos entre a favor e contrários a preservação do patrimônio. Os alunos tomam o lugar das figuras, que possuem atrás de cada carta informações como nome, descrição e detalhes confidenciais. Eles andam pelo tabuleiro e, em um dado momento, se deparam com as casas que apresentam as situações-problemas.
“Na situação-problema é descrito um caso e a partir disso é perguntado o que fazer. Então o professor vai reunir os jogadores, que terão que fazer uma votação de maneira democrática indicando se fazem a preservação ou a omissão do patrimônio”, explicou Lopes.
Uma situação do jogo é o hotel francano, que foi tombado, virou polêmica e depois foi demolido. Segundo os pesquisadores, esse é um exemplo do quanto o patrimônio mostra a história da cidade, visto que ele surgiu na economia do café e possuía muita influência na dinâmica do município.
Objetivo do jogo é fomentar a discussão acerca da preservação dos patrimônios históricos de Franca (SP)
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Na sequência do jogo, após a discussão, se os alunos optarem pela preservação do edifício eles devem apresentar uma carta instrumento indicando qual é a ferramenta mais adequada para aquele caso, como o próprio tombamento ou um inventário.
“O professor é quem conduz e não tem resposta certa. Ele vai registrando a posição da maioria em cada uma das discussões e, ao término, ele pode usar a maneira como os alunos deliberaram, pela preservação ou pela omissão, para discutir com eles o impacto da decisão”, explica Lopes.
De acordo com Ferreira, a base do jogo é despertar um apoio da população frente os impasses da preservação, fazendo as pessoas compreenderem de uma forma mais ampla todo esse mecanismo urbanístico, que muitas vezes é restrito aos técnicos.
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