Certa vez, um jovem, tendo a necessidade de escolher uma graduação pedia em suas orações que Deus lhe enviasse uma luz. Todas as noites ele repetia o mesmo ritual. O tempo passou e chegando o momento certo, Deus apareceu em seus sonhos e com o olhar sereno e a voz doce, perguntou sorrindo:
– Filho, o que queres saber?
O rapaz, todo amedrontado, tremulo, disse:
– Senhor, preciso escolher um curso, fazer uma faculdade para ter uma profissão e não sei qual. Queria uma que me desse sentido à vida, que pudesse contribuir na formação dos meus semelhantes e que plantasse a semente de um mundo melhor.
Deus, pegou em suas mãos e respondeu:
– Isso é fácil, tenha a minha.
Vendo a surpresa do jovem, e a confusão que passara em sua cabeça, Ele acrescentou:
– Te darei três chances para adivinhar a minha profissão e também me diga o motivo pelo qual a escolhi.
Olhando para o Senhor e um pouco mais calmo, o jovem começou:
– Médico, pois tem o milagre da vida nas mãos, cuida das chagas, dando alivio ao corpo e a alma.
– Tente de novo, não é esta, a minha vai mais além, respondeu o Senhor.
– Então, acredito que seja engenheiro, pois projetou e construiu as maravilhas do universo.
Deus fez um sinal que não era e acrescentou: “Só provoquei o Big Bang, o resto ocorreu naturalmente”
Tendo a ultima chance, o rapaz arriscou.
– Só pode ser Juiz de Direito, tem o poder e a justiça em seus atos.
– Errou, respondeu Deus. Não julgo ninguém, cada um recebe o que planta.
– Mas então, qual é sua profissão Mestre?
Deus, sorrindo disse:
– Você acertou, sou Mestre, um Professor.
Olhando mais surpreso ainda, o jovem educadamente fez um gesto de não acreditar. E voltando para o Senhor disse:
– Me perdoe, mas não acredito que seja professor. É uma profissão que jamais eu lhe atribuiria. O salário é baixo, nem sempre tem uma boa estrutura física, tem que suportar crianças mal-educadas, carentes e que fazem muito barulho. Adolescentes (aborrescentes) que não sabem que querem da vida, que tem ilusões sem fundamentos ou universitários que querem mudar o mundo e depois de formados caem na rotina e ainda mais, ensinar adultos analfabetos a ler e a escrever. Além disso, agora está tudo mudado, as aulas são através de uma plataforma digital, não conseguimos ver os alunos, uma sensação que estamos sozinhos.
O Mestre, agora sentado, pediu que lhe aproximasse e falando baixinho, acrescentou:
– Você tem razão, esses são os espinhos, mas vou te contar de algumas rosas: Não a nada mais bonito que o sorriso de uma criança, da esperança e do sonho da adolescência, do juramento do universitário e da emoção de ver alguém que o tempo deixou marcas no rosto escrever e ler as primeiras palavras. Eu também tive que adaptar ao mundo digital, pois orações, confissões e ajuda são pedidas por essas ferramentas – deu um sorriso.
E tem mais: não deixar de ensinar, mesmo quando magoado por uma ofensa; levar um sorriso, um toque, uma palavra amiga a um irmão que esta sofrendo, mesmo calado, com um caderno nas mãos a espera de algo novo; fazer um coração bater mais forte com belas palavras de uma poesia, mesmo que o seu esteja apertado com os desencantos da vida; mostrar o meio em que vive, e fazer sentir que somos parte de um todo.
Às vezes nenhum obrigado recebo e o pior, muitos dizem que sou o culpado pelos seus fracassos e erros e nem assim desisto das pessoas. É, não é fácil, mas me orgulho de ser professor – o dom de ensinar é Divino.
Ficando em silencio por alguns instantes, o Mestre levantou e com um beijo na face do jovem fez sua despedida. Uma névoa repentina começou a ocupar o lugar onde estavam e no meio dela, sua voz calma e doce soou:
– Estava me esquecendo, é a primeira de todas as profissões, por que se não tivesse um professor para ensinar não teríamos os médicos, os engenheiros e juízes. Por isso, ser um mestre é acima de tudo dar o caminho, um sentido à vida.
Prof. Carlos Augusto Godoy
Coordenador Pedagógico do CEPROESC